terça-feira, 16 de julho de 2013

A Vida - Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"

'A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;

a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.'

Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"


 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

São os disparates.

O engraçado, entre todos os engraçados da vida, é entender que todos os disparates fazem sentido.
De vez em quando, deparamo-nos com um desses disparates e desculpamo-nos, como sempre, com a mesma do costume "cada vez que me lembro... onde estava eu com a cabeça?". O bom português, ou até o disfarçado, não consegue fugir-lhe. É mais forte que ele. Não me refiro às lamúrias castiças, nem tão pouco ao "lá se vai andando", essas têm lugar vip e no que é sagrado, não se toca. É um legado nosso, e o que é bom é português!
Refiro-me ao não valorizar, ao desprezar o disparate saudável que é sentir aos pedaços, cada pedaço. Que mania é esta de quase nos sentirmos culpados por estar bem, simplesmente bem com tão simples momentos e circunstâncias? E que mania é essa de os ignorarmos, de fugirmos desses mesmos pedaços a sete pés? 
São os disparates que condimentam o percurso. Acreditem. Os disparates que nos desenham sorrisos, são disparates com sentido, que não devem ter mudanças de direcção ou inversões de marcha. Queixarmo-nos, sim, essa passa. Mas não fazer disparates ? Ora bolas. Nem pensar! 

Tento conjugar e aplicar o verbo várias vezes. Se assim não fosse, não teria moral suficiente para vos incentivar a disparatar. Desta forma, sinto-me à vontade para vos dizer que ando a disparatar imenso e que tenho companheiros à altura! Entender que os disparates fazem sentido... É sentir aos pedaços, cada pedaço. E nos 'entretantos', lá se vai andando. E que bem que se anda!