sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Inspira e Expira.

Há pouco tempo pediram-me para identificar alguém que me inspirasse. 'Inspirei', uma, duas e três vezes. A resposta pareceu-me sempre óbvia, até ter chegado o dia da pergunta. É sempre assim, não é? Temos tudo controlado, até termos. São os "termos" da vida.
Bom, na verdade, a resposta pareceu-me óbvia numa primeira fase. Os meus avós. Para mim são a base do verdadeiro sentido da frase feita "vê-se mesmo que são boas pessoas". Por isso, em cada passo que vou dando na vida, vou comentando com eles que o que me dá bastante prazer aqui em baixo é o facto de outras pessoas nas "cruzadas diárias", me verem da mesma maneira, com esse "vê-se mesmo que é boa pessoa" - ainda que em escalas diferentes, porque a minha admiração por eles tem 24 anos e a de quem se cruza comigo, pode ter uns minutos, horas, dias ou meses.
Mas é precisamente por haver esses tantos cruzares na minha vida que a pergunta, essa tal das inspirações, me faz inspirar uma, duas e três vezes e, no expirar do pensamento, soam alto uns quantos respirares influentes.
É também por isso que me sinto uma privilegiada. Quando olho à minha volta, sei que tenho bons exemplos, boas histórias, bons trajectos, bons ventos e bons casamentos a que me agarrar.
E tenho outros cruzares, pontuais, que agradeço aparecerem sempre na altura certa. Sempre quando preciso de um "Bora lá fazer acontecer!!!".
E quando encontro aconchegos destes, dos que fazem ver-me ali, ali  mesmo: em cada palavra, em cada vírgula, em cada ponto final. Sem interrogações, agradeço por ter esta pontaria brutal de encontrar sempre quem me inspire!

"A minha maior preocupação é ser feliz. Sempre. E fazer felizes as pessoas que passam na minha vida, mas isso parece-me óbvio, como é q dá para ser feliz sem fazer felizes os outros?
Sim, as pessoas dizem que eu ando sempre a 1000, chamam-me furacão, formiguinha atómica, mas prefiro todas as declinações de velocidade ao arrefecimento da lentidão. Adoro estar viva. Deito-me todos os dias semi-amuada como se a noite fosse uma espécie de mãe tirana que nos encaminha para a cama...e acordo todos os dias como se fosse véspera de Natal. Com uma vontade louca de fazer acontecer.
Pode ser um bocado irritante para quem dorme ao nosso lado….

Quando era pequenina escrevi no diário que casaria com o homem que me dissesse: - Vá lá anda mais depressa!
Acho q isso diz muita coisa….

Não tenho muita propensão para a tristeza. Mas sofro como gente grande com as injustiças da vida…choro muito quando um filme me comove, tento ser discreta, acho que a alegria é mais gira de partilhar.
(...)
Adoro o plano dos sonhos e das ideias mas o que me dá mesmo tesão é ver as coisas a acontecer!"

Obrigada. Sem respostas prontas, com as inspirações necessárias.





domingo, 13 de outubro de 2013

Aos domingos em Lisboa

Aos meus olhos, Lisboa sempre me pareceu uma cidade fria. Sabia identificar-lhe a luz e a beleza das colinas, mas de longe como quem a observa de um dos seus miradouros. Julguei-a ser uma cidade distante pelos olhares que pouco se cruzavam entre as rotinas diárias apressadas que eu frequentava. Com estas minhas certezas inferiorizei-a, quase sempre, quando a comparavam com as cidades nortenhas, argumentando que aqui não sabiam "fazer as honras da casa", não sabiam receber.

Depois, visitei-a a um domingo

"O que anda a fazer menina?", perguntou-me D. Conceição do alto da sua varanda,  situada  no 3.º andar de um prédio esguio na Rua João do Outeiro, na Mouraria. 

Era a primeira abordagem que recebia de uma lisboeta naquele dia em que, organizada em grupo, parti à descoberta da capital.  

Sorri-lhe à ribatejana, com gosto e a fazer jus às origens, e respondi-lhe com a mesma curiosidade: “Vim conhecer a Mouraria, vamos subir até à Graça! E a senhora, o que faz à janela numa tarde de domingo?”.

Bastaram cinco minutos de “conversa à varanda”, para saber que D. Conceição era uma recente habitante daquele bairro. Há dois anos, a casa que tinha na freguesia dos Anjos deixou de ser segura, o perigo de derrocada empurrou-a para fora de portas e a Mouraria acolheu-a. Tão bem, disse-me ela, quanto o anterior endereço postal o havia feito há trinta anos, quando veio da Madeira viver para a capital. 

Da Madeira, faziam-lhe falta as flores mas não o “descanso” das ruas menos agitadas que as de Lisboa. A esse movimento, D. Conceição já se tinha habituado.

No R/C do prédio ao lado, de traços idênticos aos prédios vizinhos – paredes pintadas de branco sujo ou cores suaves mas nunca fiéis ao tom original, buracos aqui e ali, janelas com estendais montados e varandas pintadas de verde petróleo, a condizer com os candeeiros e os bancos da rua –, o Bar dos Antónios embalava com tinto as conversas dos já habituais clientes do bairro. Cá fora, ouviam-se os desabafos de domingo de um grupo de amigos de meia-idade.

Quem passar à porta do bar dos Antónios ao fim-de-semana, quase a terminar o dia, muito provavelmente irá encontrar este grupo. O José Pacheco da Amadora, o Duarte dos Açores e os restantes companheiros vindos à boleia de Campolide e de Algés, marcam encontro neste café há vários anos. Habituaram-se ao ambiente do bairro e às pessoas.

Depois de me ter feito o convite – “Se quiser ir conhecer a minha terra vem à minha boleia. Levo-a às costas, vamos a nado e vem descobrir os Açores” -, o Sr. Duarte confessou-me que, tal como a D. Conceição, gostava de Lisboa e dos cantos, como este, a que já se tinha acostumado. Ainda assim, a capital continuava a surpreendê-lo já que, para ele, “há sempre algo desconhecido em Lisboa, há sempre alguma coisa para descobrir”.

Continuei à descoberta 

Da Mouraria, seguimos até à Graça. Até lá, o caminho embelezado pela calçada portuguesa é bastante inclinado, as ruas são estreitas e há vários becos à espreita como o “Beco do Arco Escuro”, o “Beco do Cascalho” e o “Beco do Rosendo”.

Não me agradou ver o estado degradado de algumas habitações e o lixo espalhado ou arrumado em sacos, colocados à porta, à espera que o levassem.

Ainda assim, fiquei satisfeita por verificar que nas ruas, em ambas as direções, surgem pessoas de diferentes etnias, assim como restaurantes e negócios locais de onde soam distintos dialetos. Às 17h00 daquele domingo, encontrei de portas abertas, entre outros restaurantes, o “Maximo de Angola” e o “Istambul”.

Também de portas abertas ao chegar à Graça, ao domingo, encontra-se a Tasca do Jaime. Aqui, eu e o restante grupo fomos recebidos pela Laura (sem o Dona como fez questão de alertar), com grande entusiasmo e simpatia. A todos os que se assomavam à porta para escutar o Fado, fez chegar o convite para entrar e, claro, provar os petiscos. Mesmo cheia, a Tasca do Jaime continuava a ter lugar para mais um e outro que fosse chegando. Por essa razão, as mesas estavam ocupadas por espanholas ao fundo, italianas a dividir os bolinhos de bacalhau com um lisboeta e clientes habituais da casa, com lugar marcado.

No meio da orientação e organização da tasca, Laura, mulher do Jaime, fez questão de ambientar os visitantes, apresentando os Fadistas, dando a conhecer as tradições da casa ou contanto uma ou outra história do bairro.
Se dúvidas existissem quanto às “honras da casa” que eu julgava em falta à capital, a disponibilidade da D. Conceição para a conversa à varanda, o conselho do Sr. Duarte para ir descobrir o que há por descobrir na cidade e a boa disposição da Laura, conseguiram esclarecê-las. 
Lisboa é boa anfitriã. Sabe receber quem nela vive e quem a visita aos domingos.

Fernanda a viver a Mouraria
D. Conceição em "conversas à varanda"


Vila Berta, Graça

Miradouro Sophia de Mello Breyner, Freguesia de São Vicente - Graça

Lisboa do Miradouro Sophia de Mello Breyner
Tasca do Jaime, Graça

Canta-se o Fado, na Tasca do Jaime

Rouxinol de Alverca e João Soeiro (e Filipe Morato Gomes com companhia, à espreita)

David, o sábio do Fado

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Na terra dos sonhos...

Já aqui falei do cantinho especial que tenho sempre comigo, que me "abastece" de energia para o ano inteiro. Ainda que distante, os km's esquecem-se nas entrelinhas. Porquê? Porque Aldeia Velha é sempre nossa: como porto seguro, como "país das maravilhas", como terra dos sonhos, como certeza no meio de todas as incertezas que pairam.

É difícil explicar o quanto aquela terra me diz. O quanto aquela terra nos diz, a nós, gente milhareira.
Sabemos que é da importância dos sentimentos, do convívio, das conversas, dos sorrisos, das gargalhadas, das histórias, das amizades, que nos fala ao ouvido. 

Viu-nos crescer, a todos: aos avós, aos pais, aos filhos, aos netos. Viu-nos aprender a gostar de milharas, a ouvir espanhol nas esquinas, a chamar txutxus aos bois e a esperá-los na praça. Viu-nos a construir amizades, a saber dizer "Bom dia" a qualquer "desconhecido conhecido" que por nós passa. Viu-nos a agarrar tradições, a segurar o forcão e a chorar no tractor e no palco de ansiedade e receio por quem o segura. Viu-nos a dizer "ai mãe", a comer queijo e tchouriça e a meter o dedo na massa das filhoses. Viu-nos a bailar ao som de Melendi. Viu-nos a cantar, saltar e abraçar Xutos ao fim da noite. Viu-nos a descer à ponte, a subir ao Quim e a descobrir caminhos pelos quais nunca nos perdemos. Viu-nos a saber que cada Sanches, cada Salgueira, Casanova, Nunes, e todos os outros, não são sobrenomes. São família. 

Viu-nos e continua a ver-nos crescer, continua a saber embalar-nos nos anos, a desenhar-nos os sonhos e a apagar-nos os medos.

É assim sempre. Aqui, o sempre existe mesmo! E tudo é para sempre... Haverá sempre Agosto, haverá sempre a ansiedade de 23, o brio de 24 a alegria de 25 e a ressaca de 26. Haverá sempre o Madeiro o o frio das manhãs geadas. Haverá sempre a porta aberta dos avós, dos tios e dos primos para nos receber. Haverá sempre o encerro às 8h00  e os que perdem as boleias do Super Milo, do Senhor Zé e do Florêncio para os ver. Haverá sempre o companheirismo dos mordomos, dos que coordenam os passos no forcão e dos que brindam no bar aos anos. Haverá sempre a Serra, a Nossa Senhora dos Prazeres, para respirar ar puro!

Voltar em Agosto tem um sabor agridoce mas é esse sabor que nos faz valorizar todos os regressos. Trazemos a alegria dos bons momentos e a saudade de os voltar a repetir. Durante os dias que lá passamos, entre capeias e festas, tudo o que não é Aldeia Velha, deixa de existir e passamos a existir por inteiro... Porque, por momentos,  "podes ser quem tu és e ninguém te leva a mal"  já que "na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual". 



Fotografia de Cláudia Casanova


"Guloseimas de infância, melhores que rebuçados", fotografia de Fátima Casanova


"Eu sou do tamanho do que vejo", fotografia de Fátima Casanova



Fotografia de Catarina Sanches


Fotografia de Catarina Tavares

terça-feira, 16 de julho de 2013

A Vida - Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"

'A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;

a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.'

Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"


 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

São os disparates.

O engraçado, entre todos os engraçados da vida, é entender que todos os disparates fazem sentido.
De vez em quando, deparamo-nos com um desses disparates e desculpamo-nos, como sempre, com a mesma do costume "cada vez que me lembro... onde estava eu com a cabeça?". O bom português, ou até o disfarçado, não consegue fugir-lhe. É mais forte que ele. Não me refiro às lamúrias castiças, nem tão pouco ao "lá se vai andando", essas têm lugar vip e no que é sagrado, não se toca. É um legado nosso, e o que é bom é português!
Refiro-me ao não valorizar, ao desprezar o disparate saudável que é sentir aos pedaços, cada pedaço. Que mania é esta de quase nos sentirmos culpados por estar bem, simplesmente bem com tão simples momentos e circunstâncias? E que mania é essa de os ignorarmos, de fugirmos desses mesmos pedaços a sete pés? 
São os disparates que condimentam o percurso. Acreditem. Os disparates que nos desenham sorrisos, são disparates com sentido, que não devem ter mudanças de direcção ou inversões de marcha. Queixarmo-nos, sim, essa passa. Mas não fazer disparates ? Ora bolas. Nem pensar! 

Tento conjugar e aplicar o verbo várias vezes. Se assim não fosse, não teria moral suficiente para vos incentivar a disparatar. Desta forma, sinto-me à vontade para vos dizer que ando a disparatar imenso e que tenho companheiros à altura! Entender que os disparates fazem sentido... É sentir aos pedaços, cada pedaço. E nos 'entretantos', lá se vai andando. E que bem que se anda!







domingo, 10 de março de 2013

As montanhas-russas de Pedro Rodrigues e de mais umas quantas pessoas. Umas quantas.

"No outro dia enquanto mudava os lençóis da minha cama lembrei-me de ti. Lembrei-me de ti porque vi um fio dos teus cabelos que teimava em incrustar-se no tecido. Há dois meses que não mudava fosse o que fosse neste quarto. Tinha medo de mudar-te. Tinha medo de mudar-te de lugar. Tinha medo. Mesmo sabendo que já não estavas. Mesmo sabendo que já não te importas. Mesmo sabendo que não sei o que é feito de ti. Tinha medo. Mudava os lençóis e o meu coração saltava uma batida. Mudava a mesinha de cabeceira e o meu coração saltava uma batida. Guardava as nossas fotografias e o resto dos destroços da nossa relação e tu teimavas em fazer o meu coração saltar uma batida.
 Nesse dia, ao falar com uma amiga, confessava-lhe

-Namorar com ela era como andar numa montanha-russa

De sorriso disfarçado entre as expressões de tristeza e indiferença que todos evidenciamos nestas alturas. Ela olhava-me com ternura e repreensão. Dizia-me

-Não sabes se lhe hás-de fazer o luto, ou correr-lhe novamente para os braços

E na verdade não sabia. Continuo sem saber. Quando julgo que te esqueço, apareces-me à frente e volta tudo à estaca zero. Tens a mania de te deixar ficar no meu peito. Tens a mania de te demorar a sair. Tens a mania de me incomodar. Namorar contigo era como andar numa montanha-russa. Era excitante, eufórico, vertiginoso e apavorante. Não namorar contigo obriga-me a ressacar por ti. De maneira que não sei o que será melhor. Não sei se te faça o luto e te enterre debaixo de sete palmos de entulho amoroso, ou te corra para os braços e te peça permissão para embarcar numa nova viagem.

-Não sei que fazer. Juro que não sei que fazer...

A minha amiga

-Consegues imaginar uma vida inteira ao lado dela?

Eu, de sobrolho em riste, a pensar nos prós e nos contras da questão

-As montanhas-russas também cansam...

Por muito que quisesse não te conseguia imaginar ao meu lado durante uma vida inteira. Todos precisamos de estabilidade. Um dia a euforia esgota-se, a excitação torna-se em cansaço e a vertigem torna-se demasiado grande para ser suportada. Todos precisamos de um pouco de estabilidade. Todos precisamos de um fator de equilíbrio. É irónico o amor. Nem sempre aquilo que desejamos é aquilo que nos faz bem. Nem sempre aquilo que nos fascina é aquilo que nos faz ficar.

-As montanhas-russas também cansam, e eu estou cansado

O coração é irónico, tem-me dado o cérebro para equilibrar. Não sei se ainda te amo, ou se tenho saudades de te amar".

Pedro Rodrigues, Revista Algarve Mais

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Vamos lá, menina!

Eu e o Colesterol temos uma relação complicada.
Nos últimos tempos, ando em desvantagem e ele já me dá uns 4 a 0.
A última vez, a discussão foi bruta: 290 marcou o aparelho.
Não, não pode ser.
Portanto, a partir de agora, não há desculpas!
Valha-nos os bons colegas (e artistas) que nos alertam para as rotinas e os amigos que nos preparam refeições saudáveis (e boas!).
Se alguém quiser contribuir com dicas para baixar esta coisa, esteja à vontade.
Bisous (saudáveis!)